sexta-feira, maio 11, 2007

?Deus?

V
...
Não acredito em Deus porque nunca o vi...
Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e o sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.
Mas se Deus é as árvoes e as flores
E os montes e o luar e sol,
porque lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e mosntes e sol e luar;
porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e àrvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que o conheça
Como àrvores e montes e flores e luar e sol.
E por isso obedeço-lhe,
(que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?),
obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda hora.
IV
Pensar em Deus é desobedecer a Deus,
Porque Deus quis que o não conhecêssemos
por isso se nos não mostrou...
Sejamos simples e clamos.
como os regatos e as árvores,
E Deus amar-nos-á fazendo de nós
Belos como as árvores e os regatos,
E dar-nos-á verdor na sua primavera,
E um rio aonde ir e ter quando acabemos...
e não nos dará mais nada, porque dar-nos mais
seria tirar-nos mais.
In: O Guardador de Rebanhos. Alberto Caeiros (Fernando Pessoa).

quinta-feira, maio 10, 2007

No avião, durante sua viagem para o Brasil, o sumo pontífice apoiou a ameaça de excomunhão feita por bispos mexicanos contra os membros da Assembléia Legislativa e o prefeito da Cidade do México, Marcelo Ebrard, por terem descriminalizado o aborto na capital mexicana.

"Esta ameaça não é arbitrária e está prevista no código de direito canônico", que regulamenta a Igreja Católica", disse Bento 16, em declarações feitas durante sua viagem para o Brasil.

Segundo o papa, o direito canônico diz ainda que a "morte de uma criança é incompatível com a comunhão e que os bispos não foram arbitrários, só trouxeram à luz o direito da Igreja".

O que dizer da concepção canônica?

Bem, a igreja pode fazer o que achar "melhor".

Mas acho pretensão da Igreja Católica de interferir nos assuntos de Estado para tentar impor a sua visão católica de mundo, fere o princípio da separação entre Estado e igrejas e deve ser rechaçada pelos agentes políticos do Estado.

O Ministro da saúde muito bem respondeu as declarações do papa dizendo que a fé não se excomunga.

Uma coisa é a fé, a crença de uma pessoa outra coisa são os princípios da igreja.

Temos aqui Homens discutindo sobre questão que compentem às Mulheres, porque será que elas estão fora desse debate?

O que tenho a dizer ao papa e ao código canônico é que a interrupção voluntária da gravidez não é uma matança de crianças, mas a interrupção do desenvolvimento de um embrião que ainda não é uma criança.

Resta dizer que de acordo com levantamento divulgado pela ONG Save The Children o Brasil ocupa a 57a. posição no ranking dos melhores lugares para ser mãe.

O índice leva em conta o bem-estar de mães e filhos, comparando um punhado de indicadores de qualidade de vida, como mortalidade no parto, expectativa de vida da mulher, anos de escolaridade das mães, mortalidade infantil até os 5 anos de idade, participação feminina no governo e percentual da população com acesso a água tratada, entre outros.

No Brasil já ocorrem 1 milhão de abortos por ano, ocorrem 220 mil curetagens/ano no sistema público de saúde, o aborto é a tercira causa de mortalidade materna. Tudo isso se deve em parte a demora da implantação de uma política de planejamento familiar por pressão da igreja católica.

Quem é digno de excomunhão?

terça-feira, maio 08, 2007

Quando começa a "vida"?

Com a vinda do papa ao Brasil tem-se discutido muito "quando a vida humana tem início" e se o aborto não seria um crime contra uma vida ou uma pessoa em potencial.

Talvez fosse interessante pensarmos sobre esses pontos:

1. Como já disse o desenvolvimento do conhecimento científico nos levou a relativizar o conceito de vida face as pesquisas de inseminação artificial, clonagem e células-troco embrionárias.

2. Acredito que a definição de vida humana por critérios biológicos ou científicos é um tema de regressão infinita. O que significa? Significa reconhecer que já existe informação biológica humana em diversos tipos de tecidos e células. O óvulo separadamente contém informação humana, assim como o espermatozóide, assim como o embrião .

3. A pergunta, melhor reformulada seria, em que momento as células humanas passam a ter o status de vida com prerrogativas de direitos fundamentais, tal como o direito à vida. Ou seja, quando a descrição de um dado biológico passa a ter prerrogativas morais. E, talvez, mais do que prerrogativas morais, direitos fundamentais.

4. Assim, ao contrário do que alguns sugerem, não é um dado auto-evidente afirmar que o óvulo fecundado contém vida humana e que, por isso, teria direito à vida.

5. E mesmo que haja vida biológica em alguns desses estágios, o Direito necessita mais do que descrição de fatos, necessita de valores morais para descrevê-los. E é sobre eles que deve ser a discussão.

Agora eu pergunto como um vida em potencial, um embrião que não se desenvolve independente do corpo da mulher pode ter direitos indenpende dos dela?

O fato é que as mulheres realizam aborto. Indiferente ao que elas pensam sobre a moralidade do aborto, elas o praticam. Hoje, realizam aborto em condições inseguras, sozinhas, e sem a proteção do Estado. A criminalização do aborto é uma sentença dupla de abondono dessas mulheres: primeiro, elas são abandonadas pelo Estado que as obriga o dever da gestação indesejada e, segundo, elas são forçadas a ir para a ilegalidade.

Deve-se entender o aborto como uma questão de ética privada. O Estado não deve ter uma resposta sobre como as mulheres devem lidar frente a uma gravidez não desejada. O Estado deve dar a elas condições seguras e humanitárias para tomar uma decisão que somente diz respeito a elas. Por isso, afirmar a laicidade do Estado é também reconhecer que as mulheres são livres para professar suas crenças e, livremente, decidir sobre o seu corpo e interrupção voluntária da gravidez.

Só para lembrar

O Estado brasileiro é laico. Isso significa que não há religião oficial no país. Cada cidadão é livre para professar sua própria crença. Há um pluralismo religioso e moral na sociedade brasileira. E nossa constituição protege essa diversidade.

Viva a diversidade brasileira!

À Bento XVI

Amanhã chega ao Brasil o papa (chefe da igreja católica).

Seja bem-vindo, dizem que o Brasil é um país democrático e que recebe a todos...
pode vir com sua comitiva e sua fé.
Afinal a fé do papa é tão vigora que ele precisa de segurança especial e de atiradores de eleite.
Dizem que ele veio visitar o Brasil preocupado com o seu rebanho, que é o maior do mundo, mas que tem sofrido dissidências.

Mas por que o rebanho do papa tem sofrido dissidência? O papa não é democrático?

Bem, primeiro tenho que contestar se a maioria dos Brasileiro é católica. Dizem as estatísitcas que sim. Mas, aprendi que os números absolutos não contém toda a complexidade social. É certo sim que o Brasil tem muitos "católicos apostolicos romanos", mas também é certo que boa parte do povo brasileiro é sincrética, isto é, mesmo com a tentativa dos portugueses imporem a sua religião no perído da colonização, o brasileiro não abandonou por completo as religiões africanas. Viva a mãe África! Viva aos nossos cultos afros, vivas os tambores de São Luís, Viva os tambores da Bahia, mãe Bahia de todos os santos, dos Orixàs!!!

É verdade o sincretismo continua vivo, o brasileiro vai na missa e vai na macumba! E ainda tem os pentecostais e evangélicos que tem crescido bastante, temos também os descentes de judeus e de outras tantas religiões.

E as dissidências?

Bem a igreja católica continua presa aos seus dogmas e por isso está cada vez mais distante da sociedade, é anacrônica.

O representante maior da religião católica representa as convicções dessa instituição que é contra o uso de métodos contraceptivos (com exceção da abstinência sexual), sexo só para a reprodução, condena o prazer, condena o uso da camisinha em tempo de AIDS, critica os homossexuais, é contra o aborto, condena as mulheres por lutarem pela igualdade social alegando que se distanciam da sua "função" que é cuidar do lar... Tenha misericordia da Igreja
Católica!!!

A vinda de sua "santidade" fez com que os seus críticos trouxessem a tona discussões como:
despenalização da interrupção voluntária da gravidez e legalização da união homossexual.

Vamos ver se o Lula e os nossos representates parlamentares vão fazer muito mais que beija a mão de sua "santidade".

O Estado Brasileiro é laico e tem que respoder as demandas sociais.

"Há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia" Shakespeare

Vou falar aqui o que penso sobre ciência e religião.

Para mim ambas são culturais, não tem como não ser. Ambas são produzidas pelos humanos, são narrativas que tentam explicar as coisas que nos cercam, aliás o ser humano não vive em meio ao caos, ele precisa classificar, dar nome as coisas. Ambas são uma linguagem que inventamos para traduzir o mundo natural em símbolos e conceitos que possamos compreender. Por isso, sou anti-Kant, não existe verdade, as idéias puras não existem, tudo é construção pura. Cada cultura tem a sua visão de mundo que comumente é desrespeitada... A ciência, também, proporciona visões de mundo que afeta a maneira como a gente olha para as coisas. Claro que é uma via de mão dupla o contexto político-cultural também influencia a ciência. E com a religião é diferente?

Aprendemos que há diferença entre as duas. A Religião é um dogma, não se contesta. Já a ciência experimenta, comprova e se contesta. Na religião a informação vem de cima para baixo, não tem conversa. Os padres, sacerdotes, rabinos e monges são intérpretes da verdade divina. (Bem que podia ser diferente, as informações deveriam ser ditadas pelas freiras, pelas sacerdotisas hehehe... que burrice a minha as mulheres não fazem parte da alta cúpula da maioria das religiões! São as culpadas pelo pecado original) Na ciência, a estrutura é horizontal, o conhecimento pode ser descoberto por qualquer pessoa e, em princípio, há um fórum para discutir idéias. Quando um cientista tem uma idéia, Ele ou Ela (ah, aqui tem lugar para as mulheres, hehehehe) escreve artigos e vai à conferências nas quais busca provar sua veracidade. Se for provada errada, joga-se a idéia no lixo, se for verdadeira, é aplaudida. Mas será que a ciência é tão democrática assim? Será mais questionável que a religião? Não sei. Se levarmos em consideração o que foi feito com os povos indígenas colonizados pelos europeus, acho que não é menos dogmática. No século XV os índios foram evangelizados pela religião católica em nome de Deus em detrimento da sua religião nativa, no século XIX foram classificados como “primitivos” pela ciência de acordo com a teoria do evolucionismo cultural: “primitivos, bárbaros e civilizados” (Alguém perguntou aos índios se eles concordavam com tal classificação?) Todas as espécies humana teriam que passar por esta escala evolutiva e chegar ao topo da evolução, atingir a “civilização”, isto é, chegar ao mesmo estágio de “desenvolvimento” da sociedade européia (científica e industrial).

A religião era o conhecimento que regia o Modo de produção feudal e justificava o poder absoluto do Rei. A ciência é o conhecimento que rege a o modo de produção capitalista, que leva seus produtos, sua forma de organização político-social e os impõe sobre os demais povos (o que quê que o Povo Iraquiano tem a dizer disso? Mas, a culpa não é da ciência é da má aplicação do conhecimento científico, tadinha da ciência ela é neutra!) Não é a ciência a espinha dorsal da globalização? Se entendermos que globalização é distribuição rápida do conhecimento através do globo por meio das telecomunicações via satélites e pela Internet.
Como a ciência influencia a nossa visão de mundo?
Por exemplo, o universo em que um cara do século XVI vivia, quando a Terra era o centro de tudo, é diferente do século XVIII, quando o Sol já era o centro, e é diferente do universo do século XXI, que não tem centro e se expande em todas asdireções. Com suas descobertas a ciência redefiniu nossa visão de universo, de comunicação, com a energia nuclear redefiniu nossa visão de conflito armado, as pesquisas com clonagem ou células-tonco redefiniram o que estava convencionado por vida. Mas, a ciência também gera estratificação social: os que têm acesso a essas tecnologias e os que não têm. É aí que surge a crítica: por que um conhecimento pode ser valorizado em detrimentos aos demais? Outras formas de conhecer, de curar também são viáveis. Por exemplo, no interior do Estado do maranhão as parteiras foram muito questionadas pelos médicos, mas como ficam as mulheres que não tem acesso ao médico? Por que não recorrer ao pajé, ao curandeiro, à benzedeira se eles também trazem conforto.
A intenção aqui foi apresentar críticas ao conhecimento, mas não deixar de reconhecer os benefícios trazidos pela ciência e reconhecer o seu lado favorável na constituição de nossa visão de mudo. Há que se pontuar que um dos maiores benefício de todo esse percurso foi o desenvolvimento da ciência política que fez com que o Estado criasse meio de tomar suas decisões independentes da influência religiosa.

O bem maior de ambos os conhecimentos, é que a ciência alivia o sofrimento material humano e a religião o sofrimento esperitual, mesmo que isso seja considerado alienação, o importante é se sentir bem, afinal quem sou eu para julgar o sofrimento alheio, a minha opinião aqui exposta é apenas mais uma entre tantas outras possíveis.

sábado, maio 05, 2007

La main de Dieu


Há que se pensar que a vida está sendo boa agora.
Qual é o sentido da vida?

A resposta não sei, mas penso que se vive para se aprender,

para superar as dificuldades...

... Me dê sua mão agora !

(escultura de August Rodin)