Vou falar aqui o que penso sobre ciência e religião.
Para mim ambas são culturais, não tem como não ser. Ambas são produzidas pelos humanos, são narrativas que tentam explicar as coisas que nos cercam, aliás o ser humano não vive em meio ao caos, ele precisa classificar, dar nome as coisas. Ambas são uma linguagem que inventamos para traduzir o mundo natural em símbolos e conceitos que possamos compreender. Por isso, sou anti-Kant, não existe verdade, as idéias puras não existem, tudo é construção pura. Cada cultura tem a sua visão de mundo que comumente é desrespeitada... A ciência, também, proporciona visões de mundo que afeta a maneira como a gente olha para as coisas. Claro que é uma via de mão dupla o contexto político-cultural também influencia a ciência. E com a religião é diferente?
Aprendemos que há diferença entre as duas. A Religião é um dogma, não se contesta. Já a ciência experimenta, comprova e se contesta. Na religião a informação vem de cima para baixo, não tem conversa. Os padres, sacerdotes, rabinos e monges são intérpretes da verdade divina. (Bem que podia ser diferente, as informações deveriam ser ditadas pelas freiras, pelas sacerdotisas hehehe... que burrice a minha as mulheres não fazem parte da alta cúpula da maioria das religiões! São as culpadas pelo pecado original) Na ciência, a estrutura é horizontal, o conhecimento pode ser descoberto por qualquer pessoa e, em princípio, há um fórum para discutir idéias. Quando um cientista tem uma idéia, Ele ou
Ela (ah, aqui tem lugar para as mulheres, hehehehe) escreve artigos e vai à conferências nas quais busca provar sua veracidade. Se for provada errada, joga-se a idéia no lixo, se for verdadeira, é aplaudida. Mas será que a ciência é tão democrática assim? Será mais questionável que a religião? Não sei. Se levarmos em consideração o que foi feito com os povos indígenas colonizados pelos europeus, acho que não é menos dogmática. No século XV os índios foram evangelizados pela religião católica em nome de Deus em detrimento da sua religião nativa, no século XIX foram classificados como “primitivos” pela ciência de acordo com a teoria do evolucionismo cultural: “primitivos, bárbaros e civilizados” (Alguém perguntou aos índios se eles concordavam com tal classificação?) Todas as espécies humana teriam que passar por esta escala evolutiva e chegar ao topo da evolução, atingir a “civilização”, isto é, chegar ao mesmo estágio de “desenvolvimento” da sociedade européia (científica e industrial).
A religião era o conhecimento que regia o Modo de produção feudal e justificava o poder absoluto do Rei. A ciência é o conhecimento que rege a o modo de produção capitalista, que leva seus produtos, sua forma de organização político-social e os impõe sobre os demais povos (o que quê que o Povo Iraquiano tem a dizer disso? Mas, a culpa não é da ciência é da má aplicação do conhecimento científico, tadinha da ciência ela é neutra!) Não é a ciência a espinha dorsal da globalização? Se entendermos que globalização é distribuição rápida do conhecimento através do globo por meio das telecomunicações via satélites e pela Internet.
Como a ciência influencia a nossa visão de mundo?
Por exemplo, o universo em que um cara do século XVI vivia, quando a Terra era o centro de tudo, é diferente do século XVIII, quando o Sol já era o centro, e é diferente do universo do século XXI, que não tem centro e se expande em todas asdireções. Com suas descobertas a ciência redefiniu nossa visão de universo, de comunicação, com a energia nuclear redefiniu nossa visão de conflito armado, as pesquisas com clonagem ou células-tonco redefiniram o que estava convencionado por vida. Mas, a ciência também gera estratificação social: os que têm acesso a essas tecnologias e os que não têm. É aí que surge a crítica: por que um conhecimento pode ser valorizado em detrimentos aos demais? Outras formas de conhecer, de curar também são viáveis. Por exemplo, no interior do Estado do maranhão as parteiras foram muito questionadas pelos médicos, mas como ficam as mulheres que não tem acesso ao médico? Por que não recorrer ao pajé, ao curandeiro, à benzedeira se eles também trazem conforto.
A intenção aqui foi apresentar críticas ao conhecimento, mas não deixar de reconhecer os benefícios trazidos pela ciência e reconhecer o seu lado favorável na constituição de nossa visão de mudo. Há que se pontuar que um dos maiores benefício de todo esse percurso foi o desenvolvimento da ciência política que fez com que o Estado criasse meio de tomar suas decisões independentes da influência religiosa.
O bem maior de ambos os conhecimentos, é que a ciência alivia o sofrimento material humano e a religião o sofrimento esperitual, mesmo que isso seja considerado alienação, o importante é se sentir bem, afinal quem sou eu para julgar o sofrimento alheio, a minha opinião aqui exposta é apenas mais uma entre tantas outras possíveis.