segunda-feira, junho 29, 2009

You are not alone

AMADO MICHAEL
(Tom Zé)

Negro da luz que desbota branco
Tanto talento tormento tanto
Tanta afronta de pouca monta.

Eia! virtudes em farta ceia
Todo encanto que pode o canto
Toda fiança que adoça a dança.

Que deus nos furta vida tão curta?
Mundo lamenta: ele mal cinquenta!
A ninguém ilude essa bruxa rude.
Paroxismo desse Narciso
Que achou desgosto no próprio rosto
E apedrejou-se com faca e foice.

Avança a rua (uma dor que dança)
E em seus telhados mandibulados
Requebra os hinos do dançarino.
Niños, rapazes, se sentem azes
Herdeiros todos e seus parceiros
Revelam parque, porto e favela.

II

Da Grécia três te trouxeram Graças
Arcas repletas de belas artes
Arcas que deram ciúme às Parcas.

Que luz trarias tu, mitologia,
Para um tal desatino de destino
Que o espandongado toma por fado?

Porque o povo grego disse que
Se a hybris o herói consigo quis,
Se condiz ao lado dela ser feliz
Ele mesmo será pão e maldição
Enquanto gera para os olhos de Megera.

quinta-feira, maio 21, 2009

A vida é um breve ato ou a vida é bela?

Shakespeare em Macbeth diz:

" A vida é uma sobra errante;
Um pobre comediante, que se pavoneia
no breve instante que lhe reserva a cena, para depois não ser mais ouvido.
É um conto de fadas, que nada significa,
Narrado por um idiota, cheio de voz e fúria".

Devemos pensar sobre a breviedade sem muitas expectativas ou devemos pensá-la tal qual a mensagem deixada pelo personagem do Filme "A vida é bela"?

Para este personagem toda a experiência torne-se significativa para o indivíduo que a vive.

Em "A Vida é Bela", ele se posiciona perante ao mundo demonstrando infinitas possibilidades de agir, de criar, de se experimentar frente às situações mais adversas. Ele dá sentido às situações aparentemente mais brutais atribuindo-lhe um valor transcendental.

Para que o indivíduo se lance desta maneira no mar incerto da existência é necessário que este lançamento tenha um sentido.

Qual é o sentido da sua vida?

quinta-feira, março 26, 2009

Postura da Igreja Católica:insanidade, crueldade ou princípios cristãos?

Esta é a foto de uma Mulher segurando preservativos com a imagem do papa Bento XVI e a frase "eu disse não!", em Paris (França - 25/3/2009). Os produtos foram confeccionados para criticar a postura do Pontífice de rejeitar o uso da camisinha para combater a aids em declarações dadas durante sua recente viagem ao continente africano.
Ando a pensar como a igreja católica insiste em se manter fiel a seus dogmas e se posicionar na contramão do que pensam, agem e sentem os seus "fiéis".
Aqui, no Brasil, teve grande repercussão o caso de uma menina de nove anos de idade que foi estuprada pelo padrasto. Por aqui, a Interrupção da gravidez em casos de estupro e risco de vida para a mãe é legalizada. A justiça brasileira, agiu corretamente e fez com que o direito dessa criança fosse garantido, a gravidez foi interrompida.
O que a Igreja católica fez?
Por meio de um de seus representantes num ato desumano e numa tentativa de rechaçar a prática do aborto excomungou a criança estuprada, a sua mãe o médico.
Questionado pela imprensa se o estuprador também merecia excomunhão, o bispo declarou que Não, pois o "estupro é um pecado menor que o interrupimento de uma gravidez"
O que pode levar uma instituição religiosa a desejar obrigar uma menina de nove anos, com risco de sua própria vida, a manter uma gravidez fruto de uma inominável violência?
Rígidos princípios religiosos, insanidade ou crueldade?
Sob o argumento da "defesa da vida", essas pessoas não se importaram em nenhum momento nem com a violência já sofrida pela criança, nem com a possibilidade que havia de a menina perder a própria vida. Se essa menina- detentora de existência real e concreta, com uma história de vida já em curso, relações pessoais, afetos, sentimentos e pensamentos, enfim -, se essa menina não merece ter sua vida protegida, trata-se de defender a vida de quem?
A igreja católica defende a vida ou os seus dogmas?
Existe o princípio da proporcionalidade, o que vale mais? Uma vida em potencial ou uma vida já em curso?
Uma vida em potencial é um conceito, uma abstração, não se concretizou ainda.
Quem tem o direito de condenar à morte uma pessoa em nome de se defender uma possibilidade de vida que ainda não se concretizou e não tem existência própria e autônoma?
Acredito que a postura da Igreja Católica se configurou como pura crueldade e intransigência ao defender seus princípios abstratos e seus valores absolutos que, quando confrontados com a realidade cotidiana, esvaziam-se de sentido e, principalmente, da compaixão cristã.
Nem vou aqui comentar a postura contra o uso de preservativos em tempos de AIDS.
Quanta hipocrisia!
Dessa maneira a igreja só tem perdido os seus ditos fiéis que são cada vez menores.

Felizmente, a menina pernambucana pôde, graças ao respeito a um direito democraticamente conquistado, diminuir os danos das inúmeras violências que sofreu e a gravidez foi interrompida.
Viva o Estado Laico!